sexta-feira, 20 de março de 2009

A realidade de nossa educação e o que precisamos fazer

Cássio Diniz
Professor de História e Sociologia da Escola Polivalente Caxambu


Gostaria de começar com uma pergunta pertinente: Para que serve a escola hoje? Esta questão parece estranha, vinda de um professor. Mas é pelo fato de vir de um educador que ela se torna importante, principalmente com a evidência da crise educacional brasileira.
Uma coisa devemos ter em mente. A escola atual é bem diferente de 30 anos atrás. A começar com o público alvo. Era o tempo em que a escola, principalmente o antigo colegial (clássico ou científico), tinha como objetivo preparar para a universidade, jovens de uma elite cultural, originários da elite econômica e de classes médias em ascensão. Os alunos, em alguns casos, eram selecionados por provas, dependendo do futuro desejado. Para os demais se findava o caminhar educacional. Era a seleção “natural” que uma educação excludente tinha na época.
Com o êxodo rural e o crescimento urbano de nossa sociedade, esta característica se transforma. Inicia-se um processo de massificação da educação. Os primeiros objetivos é de garantir o ensino fundamental para todos (o antigo primário, e depois o ginásio). Vencido este obstáculo iniciou-se a expansão até o atualmente conhecido Ensino Médio, completando a Educação Básica.
Algumas pessoas, principalmente aquelas de opiniões bastante conservadoras e elitistas, afirmam esta a causa da atual crise da educação. O problema não foi a massificação. Educação para todos é umas das grandes reivindicações sociais deste a Revolução Francesa, no século XVIII. A questão é que esta expansão não foi acompanhada de políticas públicas adequadas e a falta de uma remodelação do pensar pedagógico adaptado a esta realidade.
Os governos dos últimos 15 anos (leia-se FHC e Lula) têm procurado fazer esta expansão sem aumentar geometricamente as verbas destinadas à educação básica, sempre procurando esticar o dinheiro para cada vez mais estudantes. Em muitos destes últimos anos, a verba para o ensino brasileiro foi menos de 10% do PIB nacional. Um desrespeito a própria constituição federal, que defende este mínimo.
Isso tem reflexos nos estabelecimentos de ensino, tanto do lado físico, quanto do humano. O crescimento da massa de professores veio acompanhado de uma precarização de suas condições de trabalho. Isso reflete diretamente na qualidade de ensino de nossas escolas.
A outra face desta moeda é o pensar pedagógico, já citado anteriormente. Até hoje as nossas universidades, públicas e privadas, tem nos ensinado um modelo de ensino antigo e arcaico, em desacordo com a atual realidade. São raras as faculdades de educação que fizeram esta reciclagem.
Hoje aplicamos ainda um modo de educação que não faz parte da realidade econômica e social atual. Desconsideramos o novo público alvo, originário da periferia e, por diversas razões alheias, não observam a escola como seu “espaço”.
Olhemos a nossa escola. Originalmente pensada como escola-modelo de um projeto americano, onde os alunos eram jovens de grandes “expectativas”, hoje ela enfrenta os mesmos problemas de outras escolas do Brasil. Jovens desmotivados, professores idem. E assim vamos criando uma massa com diplomas, mas, no geral, impossibilitada de enfrentar uma realidade competitiva (não que defenda esta “realidade”)
Como não podemos esperar um milagre, devemos partir para a ação. A primeira é buscarmos, através de nossas reivindicações, uma nova política educacional por parte do Estado. Mais investimentos na educação e valorização do magistério são necessidades primordiais.
Mas o segundo é mais importante e vital ainda. É preciso repensarmos a educação. Não podemos simplesmente ser conteúdistas e pensar em vestibulares e concursos. É preciso pensar a educação como formadora de seres humanos, sujeitos sociais e atores de sua própria realidade. Para isso devemos adaptar os nossos conteúdos com a realidade de nosso público. Só assim venceremos a barreira do verdadeiro ensino.
Temos em nossa escola jovens extremamente inteligentes, capazes de se tornarem ótimos profissionais, formadores de opinião e transformadores sociais. Devemos valorizar suas características próprias, valorizando aspectos que não se restringem aos dogmas educacionais, que infelizmente perpetuamos no nosso dia-a-dia.

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