sábado, 14 de março de 2009

Concepções de educação e um esboço de propostas

por Cássio Diniz
professor de História e Sociologia do Estado de Minas Gerais

baseado no caderno de Teses do XIX Congresso da Apeoesp


Quando debatemos sobre a crise da educação pública brasileira, normalmente deixamos de lado uma discussão necessária, acerca da concepção de educação, baseada numa escola pública, laica e gratuita.
A educação deve estar voltada para um projeto classista, atendendo a diversidade étnica e de gênero, garantindo o acesso à educação em igualdade de condições aos filhos e filhas dos trabalhadores, apontando ainda para uma escola autônoma e democrática, tanto na gestão como na aplicação de recursos, capaz de resistir aos interesses do capital e avançar na luta pela sua superação.
Possibilitar interdisciplinaridade, garantir um currículo que dê conta da apropriação/construção/reconstrução do conhecimento, rompendo com o método de avaliação classificatório e com a seriação, mantendo ciclos que não se confundam com a promoção automática, enfrentando a exclusão, bem como propor um projeto de formação para o conjunto dos profissionais, além de jornada que lhes dê as devidas condições de trabalho e salários dignos.
A construção desse projeto só terá êxito na medida em que trabalhadores em educação e comunidade escolar conseguirem de fato realizar uma frente estratégica rumo ao objetivo comum: A educação pública-estatal, laica e gratuita.
Subjacente ao projeto educacional atual, está um modelo de sociedade mercadológica, subordinado a qualidade total nos ditames da lógica capitalista, na medida em que introjeta em professores e alunos, ideários de produtividade, eficiência e competitividade e separa aqueles que elaboram o conhecimento daqueles que o executam.
Se disputamos um projeto de sociedade, está claro que essa disputa passa também pelo campo da educação, e por isso torna-se necessário defender uma formação docente com perspectiva classista, de modo a preparar o educador para transcender o senso comum através de pressupostos teóricos que o evidenciem e o questionem, impulsionando-o a se perceber como um trabalhador comprometido com a luta de classes.
Para isso, é necessário que haja políticas de formação continuada para prosseguir seu trabalho, aliando ensino, pesquisa e extensão, elementos indissociáveis do processo pedagógico. Tais políticas devem coincidir com uma jornada racional, cujo salário deve ser suficiente para a formação e informação.
Esta visão objetiva conscientizar os educadores para a construção de um projeto de educação na perspectiva dos trabalhadores, encarando a educação como parte importante da superação da opressão de classes, entendendo a apropriação/construção/reconstrução do conhecimento como arma de enfrentamento político e revolucionário.
Quanto à gestão do sistema, é necessário superarmos o paradigma da divisão entre administrativo e pedagógico. As ações administrativas, tanto na unidade escolar como nas superintendências de ensino, devem ser entendidas a partir da inter-relação de unidade com as ações pedagógicas. Em outras palavras, as atividades administrativas em educação devem ser eminentemente pedagógicas.
A partir deste pequeno esboço espero poder contemplar diversos parâmetros acerca de um projeto de educação, que lógico, não se encontra completo ou fechado. Diante disso torna-se necessário a ampliação deste debate dentro do conjunto dos profissionais, afim de buscarmos uma ideário único de educação.

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