Por Débora Aparecida Rojas Pinto Silva, de São Lourenço, MG
O presente diz respeito às políticas públicas de Minas Gerais. Sou Inspetora Escolar efetiva por 10 anos e nunca me deparei com situações de politicagens tão degradantes como as que temos vivenciado.
Como a atuação do Inspetor acontece diretamente nas escolas, preocupo-me muito com cada aluno da instituição, que para mim não é um número a ser considerado, mas um nome que tem um vida familiar, afetiva e social.
Acontece que no último mês, preocupados com o número de reprovações que seriam divulgados nas campanhas eleitorais vindouras, a SEE/MG determinou às Superintendências Regionais de Ensino que aprovassem para os anos posteriores, os alunos retidos em 2009, mesmo não estando com as competências e habilidades mínimas do ler, escrever e calcular desenvolvidas. Isso significou que um aluno reprovado no 3º. ano (2ª. série), mas que tivesse 11 anos, mesmo não sabendo ler ou escrever, foi "promovido" automaticamente para o 6º. ano (5ª. série).
Ora, a LDB 9394/96 prevê a retenção ao final de cada ciclo. Em havendo a retenção nos ciclos dos anos iniciais é porque os alunos não possuem condições mínimas de prosseguirem seus estudos. E para que se chegue a essa conclusão, creio que muitos recursos são utilizados, claro que com algumas exceções.
Mas, isso não é o que mais me preocupa. O que me preocupa é o Joãozinho, a Mariazinha, o Zezinho, a Romilda e tantos outros saindo do 5º. ano (4ª. série) sem ler e escrever, tendo que enfrentar, no mínimo 5 professores que entrarão em sala, darão sua aula em módulos de 50 minutos, irão para casa e não estarão nem ai para os problemas desses alunos, se eles sabem ou não ler ou escrever. Não porque não querem, mas porque a jornada dupla de trabalho, devido ao baixo salário, não deixa que se preocupem com seus alunos. E ao final do ano, o que acontece? Retenção... E a auto-estima desses alunos??? E a aprendizagem de cada um deles??? Quem cuidou de sua aprendizagem??? Se permanecessem nos anos iniciais estariam sendo amparados por um professor recuperador, pelo Projeto Escola de Tempo Integral, pelo professor para o ensino do uso da biblioteca, pelo próprio professor regente. E nos anos finais??? Por quem serão atendidos? Antecipo a resposta: por ninguém. E por quê? Por que a SEE/MG não fornece recursos humanos para atender a esses tipos de necessidades. Há inclusive escassez de professores em diversas disciplinas. Temos professores que foram efetivados pela Lei 100/2007 sem concurso público, graduados em Normal Superior, que habilita para atuar apenas nos anos iniciais do Ensino Fundamental e que ministram aulas de Física, Biologia, Matemática, Língua Portuguesa e outras no Ensino Médio.
Fico decepcionada com a políticagem em meu Estado. Prejudicar alunos por questão de números e gráficos que possam fazer bonito nas campanhas eleitorais está além das sujeiras humanas.
Desrespeitar os princípios constitucionais e as normas legais educacionais em função de dados estatísticos é degradante.
Ver o ser humano como um "zé ninguém" que deve ser desrespeitado em seu direito de aprender e aprender para poder viver sua cidadania é desumano.
Como se não bastasse, esses alunos acabaram de ser posicionados nos anos posteriores após terem sido retidos ao final dos ciclos (isso significa que foram posicionados agora em abril, após terem frequentado 3 meses o ano da retenção) e já estão totalmente desabientados, além do que estão com muitas dificuldades, visto que não leem, não escrevem ou calculam. Alguns não fazem nem o processo de reversibilidade. Já imaginou como será difícil aprenderem uma equação de 1º. grau??? Coloque-se no lugar de um aluno como esses. Como se sentiria??? Como acha que se sairia????
Creio que deve estar se questionando: "- Poxa, mas porque ela não faz esse desabafo com a própria Secretária Vanessa Guimarães?".
Respondo de prontidão: " Não se desabafa ou se reclama com o pai da criação, pois ele sempre achará que o seu filho é bonito demais para ser questionado ou talvez ele esteja dançando a música que lhe pedem para dançar..."
Há também um outro fato a ser denunciado, tão grave quanto o desabafo acima.
Em julho próximo haverá uma avaliação externa (Proalfa), na qual serão avaliados os alunos que estão nos anos finais dos ciclos. Ora, os alunos que estavam retidos nesses anos ainda são alunos com muitas dificuldades e que até a data da avaliação não seriam sanadas. Logo, porque não aprová-los para que não sejam avaliados em julho e os resultados sejam melhores? Assim Minas terá uma colocação melhor na classificação geral do Brasil. A solução encontrada, então, foi determinar que esses alunos fossem aprovados para os anos posteriores, como descrito acima.
Bom, creio que já falei demais...
Sinto-me mais aliviada, mas continuo preocupada com minhas crianças e incapacitada para ajudá-las.
Espero em Deus a solução para elas e confio nas urnas para colocarmos à frente do nosso Estado, pessoas que se preocupam com pessoas e não com seus "bolsos" e status.
Enfim, a esperança é a última que morre... espero não morrer depois dela... rsrsrs
O presente diz respeito às políticas públicas de Minas Gerais. Sou Inspetora Escolar efetiva por 10 anos e nunca me deparei com situações de politicagens tão degradantes como as que temos vivenciado.
Como a atuação do Inspetor acontece diretamente nas escolas, preocupo-me muito com cada aluno da instituição, que para mim não é um número a ser considerado, mas um nome que tem um vida familiar, afetiva e social.
Acontece que no último mês, preocupados com o número de reprovações que seriam divulgados nas campanhas eleitorais vindouras, a SEE/MG determinou às Superintendências Regionais de Ensino que aprovassem para os anos posteriores, os alunos retidos em 2009, mesmo não estando com as competências e habilidades mínimas do ler, escrever e calcular desenvolvidas. Isso significou que um aluno reprovado no 3º. ano (2ª. série), mas que tivesse 11 anos, mesmo não sabendo ler ou escrever, foi "promovido" automaticamente para o 6º. ano (5ª. série).
Ora, a LDB 9394/96 prevê a retenção ao final de cada ciclo. Em havendo a retenção nos ciclos dos anos iniciais é porque os alunos não possuem condições mínimas de prosseguirem seus estudos. E para que se chegue a essa conclusão, creio que muitos recursos são utilizados, claro que com algumas exceções.
Mas, isso não é o que mais me preocupa. O que me preocupa é o Joãozinho, a Mariazinha, o Zezinho, a Romilda e tantos outros saindo do 5º. ano (4ª. série) sem ler e escrever, tendo que enfrentar, no mínimo 5 professores que entrarão em sala, darão sua aula em módulos de 50 minutos, irão para casa e não estarão nem ai para os problemas desses alunos, se eles sabem ou não ler ou escrever. Não porque não querem, mas porque a jornada dupla de trabalho, devido ao baixo salário, não deixa que se preocupem com seus alunos. E ao final do ano, o que acontece? Retenção... E a auto-estima desses alunos??? E a aprendizagem de cada um deles??? Quem cuidou de sua aprendizagem??? Se permanecessem nos anos iniciais estariam sendo amparados por um professor recuperador, pelo Projeto Escola de Tempo Integral, pelo professor para o ensino do uso da biblioteca, pelo próprio professor regente. E nos anos finais??? Por quem serão atendidos? Antecipo a resposta: por ninguém. E por quê? Por que a SEE/MG não fornece recursos humanos para atender a esses tipos de necessidades. Há inclusive escassez de professores em diversas disciplinas. Temos professores que foram efetivados pela Lei 100/2007 sem concurso público, graduados em Normal Superior, que habilita para atuar apenas nos anos iniciais do Ensino Fundamental e que ministram aulas de Física, Biologia, Matemática, Língua Portuguesa e outras no Ensino Médio.
Fico decepcionada com a políticagem em meu Estado. Prejudicar alunos por questão de números e gráficos que possam fazer bonito nas campanhas eleitorais está além das sujeiras humanas.
Desrespeitar os princípios constitucionais e as normas legais educacionais em função de dados estatísticos é degradante.
Ver o ser humano como um "zé ninguém" que deve ser desrespeitado em seu direito de aprender e aprender para poder viver sua cidadania é desumano.
Como se não bastasse, esses alunos acabaram de ser posicionados nos anos posteriores após terem sido retidos ao final dos ciclos (isso significa que foram posicionados agora em abril, após terem frequentado 3 meses o ano da retenção) e já estão totalmente desabientados, além do que estão com muitas dificuldades, visto que não leem, não escrevem ou calculam. Alguns não fazem nem o processo de reversibilidade. Já imaginou como será difícil aprenderem uma equação de 1º. grau??? Coloque-se no lugar de um aluno como esses. Como se sentiria??? Como acha que se sairia????
Creio que deve estar se questionando: "- Poxa, mas porque ela não faz esse desabafo com a própria Secretária Vanessa Guimarães?".
Respondo de prontidão: " Não se desabafa ou se reclama com o pai da criação, pois ele sempre achará que o seu filho é bonito demais para ser questionado ou talvez ele esteja dançando a música que lhe pedem para dançar..."
Há também um outro fato a ser denunciado, tão grave quanto o desabafo acima.
Em julho próximo haverá uma avaliação externa (Proalfa), na qual serão avaliados os alunos que estão nos anos finais dos ciclos. Ora, os alunos que estavam retidos nesses anos ainda são alunos com muitas dificuldades e que até a data da avaliação não seriam sanadas. Logo, porque não aprová-los para que não sejam avaliados em julho e os resultados sejam melhores? Assim Minas terá uma colocação melhor na classificação geral do Brasil. A solução encontrada, então, foi determinar que esses alunos fossem aprovados para os anos posteriores, como descrito acima.
Bom, creio que já falei demais...
Sinto-me mais aliviada, mas continuo preocupada com minhas crianças e incapacitada para ajudá-las.
Espero em Deus a solução para elas e confio nas urnas para colocarmos à frente do nosso Estado, pessoas que se preocupam com pessoas e não com seus "bolsos" e status.
Enfim, a esperança é a última que morre... espero não morrer depois dela... rsrsrs
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