escrito por Leonardo Sakamoto
O Congresso Nacional aprovou a medida provisória 458, que trata da regularização fundiária na Amazônia. Regularizar é importante para que haja controle sobre a região, responsabilizando quem devasta a terra e explora sua gente. Contudo, a MP 458 não vai fazer isso. Se Lula não usar seu poder de veto sobre o texto, a nova lei vai ser instrumento de premiação de grandes grileiros na região, pessoas e empresas, que poderão explorar e comercializar terras sob a proteção do Estado. A proposta que começou na Presidência da República passou pelo Congresso Nacional, sendo defendido de forma magistral por expoentes da bancada ruralista.
É triste e, ao mesmo tempo, paradigmática, a forma através da qual a bancada tem usado argumentos bizarros para separar algo indivisível, como a proteção do meio ambiente e a qualidade de vida da população, colocando em lados opostos o desenvolvimento e a sustentabilidade. Como imagino que deputados e senadores não sejam burros, eles devem saber que é impossível o ser humano existir sem o meio em que ele está inserido. Em outras palavras, se este meio virar vinagre por conta da ação humana, o homem vai junto para o buraco. Ou seja, o destino de árvores e micos estão diretamente relacionados aos de agricultores e pecuaristas.
A humanidade enfrenta a pior crise ambiental de sua história, sob risco de entrar em colapso com o esgotamento e a degradação dos recursos naturais. Os países da periferia levam a culpa pelo desequilíbrio ecológico mundial e são criticados pelo modelo de desenvolvimento que adotam, agressivo ao meio ambiente. O julgamento parte das nações ricas, as quais, por mais de dois séculos, destruíram seus patrimônios naturais e continuam poluindo. As elites dos países periféricos clamam, por sua vez, pelo direito de também poluir, expulsar, destruir, eliminar, converter, empacotar e vender (matando e escravizando, se necessário), a fim de poder alcançar o nível de consumo das sociedades desenvolvidas.
Em meio a essa discussão, o quadro não poderia ser pior. Dentro de duas décadas, não haverá água potável suficiente para suprir as necessidades de dois terços da população mundial - regiões metropolitanas, como a Grande São Paulo, já vivem uma crise de abastecimento. O efeito estufa está aumentando a temperatura global e provocando mudanças climáticas, enquanto a desertificação de áreas cultiváveis compromete a produção de alimentos. Uma nuvem de poluição paira sobre o Sudeste Asiático, levando crianças e idosos aos hospitais diariamente. Santa Catarina desmoronou nas chuvas por conta da irresponsabilidade do Estado, que deixou que matas de proteção fossem retiradas. Demorou, mas o planeta já dá o troco.
O debate sobre o meio ambiente emerge no século 21 como uma discussão sobre a qualidade de vida - não tratando apenas de árvores cortadas, rios poluídos e derramamento de petróleo, mas também da atual idéia de progresso que não está conseguindo dar respostas satisfatórias à sociedade. E nega a todos um futuro.
Tendo isso em vista, vamos pegar um exemplo de como a bancada ruralista ataca quem fala de proteção ao meio ambiente.
O nosso Senado está repleto de argumentos que fariam os maiores filósofos da história da humanidade tremer diante de tanta profundidade. Um dos parlamentares que usou o dom do discurso para justificar o injustificável (e acelerar o rolo compressor sobre a Amazônia) é Mozarildo Cavalcanti (PTB-RR):
“Árvore é um ser vivo, nasce, cresce e morre. Se nós não derrubarmos mais nenhuma, as árvores importantes vão morrer, apodrecer, criar cupim.”
A Câmara dos Deputados também adota a retórica política de alto nível ao discutir meio ambiente. Um exemplo é o deputado federal Luciano Pizzatto (DEM-PR) que mostrou, em um debate, como a motosserra equilibra as forças do universo:
“O que os defensores do meio ambiente devem entender, é que o universo é violento e destrutivo. Portanto preservar o meio ambiente deve considerar isso, porque senão poderá às vezes nos prejudicar. Ao derrubar uma árvore, estamos na verdade dando o direito de outra nascer.”
Sei que alguns parlamentares já receberam o prêmio de Inimigos da Amazônia. Mas não poderia deixar de dar o bem-humorado Troféu Frango, criado por este blog para premiar bizarrices em geral, a quem defende o butim em curso contra a legislação ambiental. Troféu Frango que volta reformulado.
É triste e, ao mesmo tempo, paradigmática, a forma através da qual a bancada tem usado argumentos bizarros para separar algo indivisível, como a proteção do meio ambiente e a qualidade de vida da população, colocando em lados opostos o desenvolvimento e a sustentabilidade. Como imagino que deputados e senadores não sejam burros, eles devem saber que é impossível o ser humano existir sem o meio em que ele está inserido. Em outras palavras, se este meio virar vinagre por conta da ação humana, o homem vai junto para o buraco. Ou seja, o destino de árvores e micos estão diretamente relacionados aos de agricultores e pecuaristas.
A humanidade enfrenta a pior crise ambiental de sua história, sob risco de entrar em colapso com o esgotamento e a degradação dos recursos naturais. Os países da periferia levam a culpa pelo desequilíbrio ecológico mundial e são criticados pelo modelo de desenvolvimento que adotam, agressivo ao meio ambiente. O julgamento parte das nações ricas, as quais, por mais de dois séculos, destruíram seus patrimônios naturais e continuam poluindo. As elites dos países periféricos clamam, por sua vez, pelo direito de também poluir, expulsar, destruir, eliminar, converter, empacotar e vender (matando e escravizando, se necessário), a fim de poder alcançar o nível de consumo das sociedades desenvolvidas.
Em meio a essa discussão, o quadro não poderia ser pior. Dentro de duas décadas, não haverá água potável suficiente para suprir as necessidades de dois terços da população mundial - regiões metropolitanas, como a Grande São Paulo, já vivem uma crise de abastecimento. O efeito estufa está aumentando a temperatura global e provocando mudanças climáticas, enquanto a desertificação de áreas cultiváveis compromete a produção de alimentos. Uma nuvem de poluição paira sobre o Sudeste Asiático, levando crianças e idosos aos hospitais diariamente. Santa Catarina desmoronou nas chuvas por conta da irresponsabilidade do Estado, que deixou que matas de proteção fossem retiradas. Demorou, mas o planeta já dá o troco.
O debate sobre o meio ambiente emerge no século 21 como uma discussão sobre a qualidade de vida - não tratando apenas de árvores cortadas, rios poluídos e derramamento de petróleo, mas também da atual idéia de progresso que não está conseguindo dar respostas satisfatórias à sociedade. E nega a todos um futuro.
Tendo isso em vista, vamos pegar um exemplo de como a bancada ruralista ataca quem fala de proteção ao meio ambiente.
O nosso Senado está repleto de argumentos que fariam os maiores filósofos da história da humanidade tremer diante de tanta profundidade. Um dos parlamentares que usou o dom do discurso para justificar o injustificável (e acelerar o rolo compressor sobre a Amazônia) é Mozarildo Cavalcanti (PTB-RR):
“Árvore é um ser vivo, nasce, cresce e morre. Se nós não derrubarmos mais nenhuma, as árvores importantes vão morrer, apodrecer, criar cupim.”
A Câmara dos Deputados também adota a retórica política de alto nível ao discutir meio ambiente. Um exemplo é o deputado federal Luciano Pizzatto (DEM-PR) que mostrou, em um debate, como a motosserra equilibra as forças do universo:
“O que os defensores do meio ambiente devem entender, é que o universo é violento e destrutivo. Portanto preservar o meio ambiente deve considerar isso, porque senão poderá às vezes nos prejudicar. Ao derrubar uma árvore, estamos na verdade dando o direito de outra nascer.”
Sei que alguns parlamentares já receberam o prêmio de Inimigos da Amazônia. Mas não poderia deixar de dar o bem-humorado Troféu Frango, criado por este blog para premiar bizarrices em geral, a quem defende o butim em curso contra a legislação ambiental. Troféu Frango que volta reformulado.
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