Faltam poucos dias para o início da Conferência Estadual de Educação, que ocorrerá em BElo Horizonte em 8 de novembro, como etapa semi-final para o CONAE 2010.
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Aproveitando o espaço de debate democrático, estou escrevendo um manifesto a ser divulgado no evento. Intitulado "Manifesto Por Uma Educação Transformadora", ele é apenas um esboço, a ser melhor preparado. Mas deêm uma olhada:
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Manifesto por uma Educação Transformadora
Por Cássio Diniz,
professor da rede estadual de Minas Gerais
Primeiramente gostaríamos de saudar a todos os presentes à etapa estadual mineira da CONAE (Conferência Nacional de Educação). A todos que aqui estão debatendo coletivamente, do mais puro interesse democrático da construção de um novo caminho para a educação brasileira e, por que não dizer, da nossa sociedade.
Aproveitando-se deste grandioso ambiente de debate e participação popular, representando diversos setores envolvidos diretamente e indiretamente no processo educacional em nosso país, gostaríamos de introduzir uma nova discussão em relação ao papel e o objetivo da educação que queremos discutir.
Muito se tem falando nos últimos tempos que o caminho para o progresso e desenvolvimento econômico e social do Brasil passa diretamente pela educação, e que para que possamos alcançar estes objetivos precisamos de um compromisso maior por parte do Estado e da sociedade, através de pesados investimentos, a formulação de um Plano Nacional e a criação de um Sistema Nacional de Educação, além é claro, da valorização dos profissionais.
Estes pontos são corretos e devem ser discutidos. Mas ao contrário do que muitos acreditam, não se limita a isso. Dentro deste contexto, precisamos analisar que papel a educação tem tido no Brasil e no mundo capitalista no último século. Será que o modelo educacional que tanto defendemos realmente tem o compromisso com a transformação? Ou será que o nosso processo de ensino-aprendizagem vem apenas reproduzindo uma idéia pré-estabelecida? Será que mudanças apenas pontuais irão mudar a nossa realidade?
Só podemos responder a essas perguntas se nos deixarmos perder as mascaras que nos são impostas. Ao contrário do que a ideologia dominante de nosso sistema capitalista nos impõe, a sociedade moderna não é a sociedade da oportunidade, da igualdade, da justiça. E não é simplesmente explicada pelo discurso da corrupção e da malandragem como características culturais nacionais que impedem o nosso desenvolvimento pleno.
Peço que analisemos sob outros aspectos, sob outros olhares. Nós vivemos numa sociedade dividida em classes sociais e é sobre esta realidade que se moldam os nossos modelos educacionais. A educação se transforma num espelho desta sociedade. Negá-la significa aceitar o discurso que só beneficia manter e reproduzir esta idéia. Analisá-la sob a perspectiva da luta de classes se torna o nosso compromisso enquanto professores.
Não queremos uma educação que mantenha a velha estrutura social. Não queremos reproduzir a ordem de dominação econômica e política que o sistema nos escraviza. Não queremos transformar os seres humanos em apenas engrenagens de uma máquina, em combustível social a ser queimada em nome de lucros e privilégios de uma minoria.
Nosso compromisso enquanto professores é a da transformação social. É formar cidadãos transformadores de sua própria realidade. É tornar o ser humano um sujeito social capaz, através do acumulo de seus conhecimentos, mudar o mundo.
Defendemos uma educação transformadora, que tenha como objetivo principal a libertação de nosso povo. Não queremos mais reproduzir. Não queremos mais formatar. Queremos transformar.
Para isso se torna necessário uma nova política pública educacional. Uma política que favoreça a construção do cidadão enquanto sujeito social responsável pela sua realidade. O processo ensino-aprendizagem deve ser moldado como um instrumento para se alcançar estes objetivos, e não o seu fim. O mundo não será mudado apenas pelo acumulo, mas sim pelo uso moral de seu conhecimento.
Defendemos o fim da reprodução da ideologia dominante, que prima pelo individualismo, pela competição, contra a idéia de união, solidariedade e coletividade. Queremos novos conceitos e para isso defendemos uma mudança programática nas políticas de formação de professores, ressaltando o seu papel social.
Defendemos o fim da mercantilização da educação, em todos os níveis. A nova educação transformadora só passará em um ambiente novo. Queremos a construção e a ampliação de uma educação pública, de qualidade, laica e universal, com pesados investimentos estatais.
Defendemos, além do que já foi dito, a real valorização de todos os profissionais da educação, com salários dignos e reconhecimento por parte do poder público, que apesar do discurso dominante, tem se caminhado no sentido contrário.
Defendemos o fim do estudo puramente tecnicista, voltado exclusivamente para a formação de mão-de-obra barata para o sistema. Queremos uma educação que prepara o cidadão para o mundo do trabalho sob todos os seus aspectos.
E acima de tudo, defendemos a liberdade do debate, da opinião, dos ambientes de construção de novas idéias e novos caminhos, que buscarão sempre a permanente construção de uma educação transformadora.
Isso não é utópico, não é um sonho. Muitos dirão serem impossíveis tais mudanças, que a nossa legislação não abre espaço para tantas transformações. Digo que estão errados. Não estamos aqui debatendo uma nova educação? Não podemos ficar presos aos primeiros desafios. Estamos em uma luta e devemos ver claramente quais são nossos inimigos. Se forem leis que impedem o nosso desenvolvimento, que discutamos mudar essas leis. Se forem os interesses econômicos de uma elite dominante que se colocam em nossos caminhos, que os derrotemos.
Se realmente queremos mudar a nossa realidade, torna-se necessário a nossa luta, a grande cruzada pela educação. Uma mobilização nacional e popular que destrua as barreiras que nos são impostas. Nossa palavra de ordem deve ser “Por uma educação verdadeiramente transformadora”
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